Estimulação cerebral ajuda a tratar pacientes com fibromialgia
Para garantir bons resultados durante uma competição, alguns atletas recorrem ao consumo de substâncias sintéticas que impulsionam o desempenho físico, uma prática não só ilegal, mas maléfica ao corpo humano. Pesquisadores britânicos descobriram uma maneira de obter o mesmo ganho sem causar danos ao organismo, com o uso da estimulação craniana magnética. Os cientistas aplicaram a técnica em indivíduos saudáveis e observaram uma otimização no desempenho dos participantes durante a realização de atividades físicas. Os achados, publicados na revista especializada Brain Estimulation, também podem servir como um tratamento auxiliar para indivíduos que precisam realizar exercícios por distúrbios médicos, como a fibromialgia, mas que enfrentam dificuldades físicas.
“Esse estudo foi uma extensão do nosso trabalho anterior, que já mostrava que, para estimular a resistência física, é necessário entender como o cérebro funciona. Para isso, nos focamos no uso da técnica de estimulação transcraniana de corrente direta (TDCS, em inglês)”, justificou ao Correio Lex Mauger, professor da Escola de Ciências do Esporte e do Exercício da Universidade de Kent, no Reino Unido. Com essa suspeita inicial, os cientistas resolveram testar TDCS em indivíduos saudáveis. Eles convocaram 12 participantes: parte deles recebeu a terapia de estimulação magnética, que consiste na aplicação de uma corrente elétrica leve sobre o couro cabeludo por meio de eletrodos; enquanto a outra parcela recebeu uma estimulação placebo. Ao fim de cada sessão de 10 minutos, os pesquisadores desconectaram os eletrodos e colocaram os voluntários em bicicletas elétricas.
O experimento foi repetido diversas vezes. As análises mostraram que os participantes que receberam a estimulação transcraniana de corrente direta se mostraram menos cansados e concordavam em aumentar a distância percorrida quando essa opção era oferecida pelos pesquisadores. Segundo os cientistas, esse efeito ocorreu porque a técnica aumenta a excitabilidade dos neurônios presentes na área cerebral estimulada. “Quando os neurônios são mais excitáveis eles disparam mais prontamente. Nós estimulamos uma área do cérebro envolvida na contração muscular (o córtex motor). Por essa área estar mais excitada, ela tem que trabalhar menos para contrair o músculo. Como resultado, o exercício também se mostra mais leve, e a combinação desses fatores resulta em melhor desempenho e resistência”, ressaltou Lex Mauger, o autor principal da pesquisa.
Entusiasmados com o resultado do estudo, os pesquisadores pretendem dar continuidade à investigação para tentar descobrir se exercícios especializados, realizados por atletas, mostram os mesmos ganhos que a atividade moderada. “Atualmente, estamos analisando se TDCS pode facilitar o treinamento atlético, tornando ele ainda mais efetivo. É importante avaliar esse efeito ergogênico”, frisou o professor da Universidade de Kent.
Suspeita
Os pesquisadores explicaram que a maior motivação para a realização dos testes foram os benefícios da técnica de estimulação craniana dentro da área médica, que eram conhecidos pelos especialistas. “Há muitos exemplos do uso de TDCS em populações clínicas, como acidente vascular cerebral, depressão, dor crônica, Parkinson… Na verdade, essa técnica está sendo aplicada pela primeira vez em atividades físicas. As razões pelas quais ela pode funcionar nessas diferentes doenças provavelmente variam, mas, em última análise, tudo se baseia em aumentar a excitabilidade de uma determinada área do cérebro”, destacou Mauger.
Para Cláudia Barata Ribeiro, neurologista do Hospital Santa Lúcia e presidente regional da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação, a pesquisa americana se destaca justamente por ter mostrado um novo uso para uma técnica que tem se mostrado eficaz em diversas áreas terapêuticas. “Patologias diversas já possuem aprovação para o uso dessa técnica, como a depressão, por exemplo. Muitos casos dessa doença, que não mostraram melhoras com medicamentos, conseguiram obter resultados positivos com a utilização da estimulação elétrica. O zumbido também é outra enfermidade que tem sido tratada eficazmente com esse método. Mesmo fora do campo de problemas de saúde, o aumento da concentração e da performance intelectual também já foi constatado com o uso da estimulação neural. Mas essa é a primeira vez que vejo sua utilização na melhora da atividade física”, ressaltou a especialista.
A neurologista disse ainda acreditar que a técnica poderia ser utilizada por atletas que desejam otimizar o seu desempenho. “É uma boa opção porque o custo seria baixo. Pode ser uma alternativa para atletas que querem melhorar sua resistência, que se sentem estagnados após anos de treino. Seria um recurso auxiliar ao treinamento físico desses profissionais”, destacou a médica.
Cláudia Ribeiro também ressaltou que o uso da técnica em pacientes que precisam realizar atividades físicas, mas não conseguem, seria outra vantagem. “Pessoas que sofrem com enfermidades como a fibromialgia, por exemplo, que precisam realizar exercícios regularmente, poderiam explorar o uso dessa técnica. Muitos desses pacientes reclamam que não conseguem fazer atividades físicas, porque sentem mais dores. Não sei se isso seria capaz, é apenas a minha opinião, mas talvez, com o tempo de uso da estimulação, os exercícios podem se tornar algo normal para esses indivíduos, servindo apenas como um pontapé inicial”, complementou a especialista
Mecanismo auxiliar
Ergogênese é a junção de duas palavras gregas: “ergo” significa trabalho, e “gen” é traduzida como produção. Os recursos ergogênicos são usados na área esportiva como um procedimento que ajuda a aumentar, aprimorar e otimizar o desempenho físico. São divididos em diversas categorias, como os biomecânicos: roupas que auxiliam na hora de realizar as atividades física e psicológicas, como sessões de hipnose.
Fonte: Correiobraziliense
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