Como as vacinas se tornaram vítimas de seu próprio sucesso
A imunização é uma das formas mais baratas e eficazes de prevenir doenças infecciosas graves. Não por acaso, as vacinas são consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das principais contribuições da medicina moderna para a humanidade. Ainda assim, é comum que surjam questionamentos sobre o seu uso.
Para o infectologista e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Guido Levi, também autor do livro Recusa de vacinas: causas e consequências, a vacinação é uma vítima de seu próprio sucesso. “Muitos médicos mais jovens sequer viram casos de varíola, poliomielite e até mesmo de sarampo. Aos poucos, a população se esquece do quão devastadoras as doenças podiam ser”, explica.
Ele destaca que entre os séculos 18 e 19, conforme descreve em sua obra, a varíola matou cerca de 400 mil pessoas por ano na Europa. Da mesma forma, quando os espanhóis chegaram ao continente americano, cerca de três milhões de nativos morreram pelo contágio.
Prevenção é a melhor saída
Mas além de seu histórico, a vacinação segue ainda hoje como um dos principais instrumentos de combate às doenças infecciosas. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que cerca de 400 crianças morram por dia no mundo devido ao sarampo. Por outro lado, a entidade ressalta que o aumento da imunização permitiu salvar outras 20,3 milhões entre 2000 e 2015.
“Mesmo em países de primeiro mundo essas epidemias ainda ocorrem quando a vacinação é falha. A Europa é um exemplo. Por que tratar se podemos prevenir? Nos últimos dois séculos, estima-se que as vacinas tenham sido responsáveis por um aumento de 30 anos na expectativa de vida da população”, reflete Levi.
Argumentos para questionar
O infectologista questiona os argumentos utilizados por aqueles que se opõem à vacinação e rebate alguns dos principais mitos disseminados.
Efeitos colaterais
É verdade que as vacinas podem apresentar algum efeito colateral, assim como acontece com qualquer medicamento. A maioria deles, no entanto, são leves e de fácil controle (como febre baixa, irritação na pele e dor muscular). Ou seja, muito menores do que os riscos que a doença poderia ocasionar se não fosse prevenida.
Nada perto da relação entre o uso da tríplice viral (que protege contra sarampo, rubéola e caxumba) e o autismo, conforme supôs o médico britânico Andrew Wakefield, em artigo publicado em 1998 na revista científica The Lancet.
Apesar de toda a repercussão que o assunto ganhou na época, trazendo dúvidas sobre os benefícios da imunização, em 2010 a The Lancet tirou o estudo de seu acervo digital e Wakefiled teve sua licença cassada pelo Conselho de Medicina do Reino Unido. O motivo foi a comprovação de que ele havia fraudado dados utilizados na pesquisa.
Falta de necessidade
Outro argumento comum para evitar as vacinas é ausência da circulação de algumas doenças no Brasil, a exemplo do sarampo. Sua alta incidência no mundo, porém, mostra como esse argumento é frágil. Novos surtos podem voltar a ocorrer facilmente se a imunização não acontecer.
Opção pela imunidade natural
Há ainda quem justifique que as crianças deveriam adquirir sua imunidade de maneira natural. Levi lembra, no entanto, que o esquema de imunização certo, com todos os seus reforços, pode atingir o mesmo nível de proteção. Isso sem expor o paciente ao risco de desenvolver a doença e suas sequelas – ou mesmo levar ao óbito.
Fonte: Simers
Related Posts
Conselho Deliberativo aborda temas estratégicos para a saúde pública no Brasil
Fenam vai ao Congresso lutar pela aprovação do Piso Salarial dos Médicos
Notícias Recentes
Piso salarial dos médicos é aprovado na Comissão de Saúde da Câmara
Conselho Deliberativo aborda temas estratégicos para a saúde pública no Brasil
Fenam vai ao Congresso lutar pela aprovação do Piso Salarial dos Médicos
Violência contra médicos: até quando?
Comentários Recentes
- FENAM e ADAPS avançam na negociação de acordo trabalhista - Fenam - Federação Nacional dos Médicos em Agenda dos Médicos para a Saúde do Brasil
- Quanto ganha um médico recém-formado? em Piso FENAM 2022
- Ademir Brun em Piso FENAM 2022
- Onofre Cardoso Vieira em Quem é o Dr. Gutemberg
- Marco Antonio Manjhon Soliz em Piso FENAM 2022
Arquivos
- novembro 2024
- outubro 2024
- setembro 2024
- agosto 2024
- julho 2024
- junho 2024
- maio 2024
- abril 2024
- março 2024
- fevereiro 2024
- janeiro 2024
- dezembro 2023
- novembro 2023
- outubro 2023
- setembro 2023
- agosto 2023
- julho 2023
- junho 2023
- maio 2023
- abril 2023
- março 2023
- fevereiro 2023
- janeiro 2023
- dezembro 2022
- novembro 2022
- outubro 2022
- março 2022
- janeiro 2022
- dezembro 2021
- novembro 2021
- outubro 2021
- setembro 2021
- agosto 2021
- julho 2021
- junho 2021
- maio 2021
- abril 2021
- março 2021
- fevereiro 2021
- janeiro 2021
- outubro 2020
- setembro 2020
- agosto 2020
- julho 2020
- maio 2020
- abril 2020
- março 2020
- fevereiro 2020
- janeiro 2020
- dezembro 2019
- novembro 2019
- outubro 2019
- setembro 2019
- agosto 2019
- julho 2019
- junho 2019
- maio 2019
- abril 2019
- março 2019
- fevereiro 2019
- janeiro 2019
- dezembro 2018
- novembro 2018
- outubro 2018
- setembro 2018
- agosto 2018
- julho 2018
- junho 2018
- maio 2018
- abril 2018
- março 2018
- fevereiro 2018
- janeiro 2018
- dezembro 2017
- novembro 2017
- outubro 2017
- setembro 2017
- agosto 2017
- julho 2017
- junho 2017
- abril 2017
- outubro 2012
- maio 2012
- fevereiro 2012
- julho 2011
- outubro 2010
- junho 2010