Como as vacinas se tornaram vítimas de seu próprio sucesso

11 de outubro de 2017

A imunização é uma das formas mais baratas e eficazes de prevenir doenças infecciosas graves. Não por acaso, as vacinas são consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das principais contribuições da medicina moderna para a humanidade. Ainda assim, é comum que surjam questionamentos sobre o seu uso.

Para o infectologista e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Guido Levi, também autor do livro Recusa de vacinas: causas e consequências, a vacinação é uma vítima de seu próprio sucesso. “Muitos médicos mais jovens sequer viram casos de varíola, poliomielite e até mesmo de sarampo. Aos poucos, a população se esquece do quão devastadoras as doenças podiam ser”, explica.

Ele destaca que entre os séculos 18 e 19, conforme descreve em sua obra, a varíola matou cerca de 400 mil pessoas por ano na Europa. Da mesma forma, quando os espanhóis chegaram ao continente americano, cerca de três milhões de nativos morreram pelo contágio.

Prevenção é a melhor saída
Mas além de seu histórico, a vacinação segue ainda hoje como um dos principais instrumentos de combate às doenças infecciosas. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que cerca de 400 crianças morram por dia no mundo devido ao sarampo.  Por outro lado, a entidade ressalta que o aumento da imunização permitiu salvar outras 20,3 milhões entre 2000 e 2015.

“Mesmo em países de primeiro mundo essas epidemias ainda ocorrem quando a vacinação é falha. A Europa é um exemplo. Por que tratar se podemos prevenir? Nos últimos dois séculos, estima-se que as vacinas tenham sido responsáveis por um aumento de 30 anos na expectativa de vida da população”, reflete Levi.

Argumentos para questionar
O infectologista questiona os argumentos utilizados por aqueles que se opõem à vacinação e rebate alguns dos principais mitos disseminados.

Efeitos colaterais
É verdade que as vacinas podem apresentar algum efeito colateral, assim como acontece com qualquer medicamento. A maioria deles, no entanto, são leves e de fácil controle (como febre baixa, irritação na pele e dor muscular). Ou seja, muito menores do que os riscos que a doença poderia ocasionar se não fosse prevenida.

Nada perto da relação entre o uso da tríplice viral (que protege contra sarampo, rubéola e caxumba) e o autismo, conforme supôs o médico britânico Andrew Wakefield, em artigo publicado em 1998 na revista científica The Lancet.

Apesar de toda a repercussão que o assunto ganhou na época, trazendo dúvidas sobre os benefícios da imunização, em 2010 a The Lancet tirou o estudo de seu acervo digital e Wakefiled teve sua licença cassada pelo Conselho de Medicina do Reino Unido. O motivo foi a comprovação de que ele havia fraudado dados utilizados na pesquisa.

Falta de necessidade
Outro argumento comum para evitar as vacinas é ausência da circulação de algumas doenças no Brasil, a exemplo do sarampo. Sua alta incidência no mundo, porém, mostra como esse argumento é frágil. Novos surtos podem voltar a ocorrer facilmente se a imunização não acontecer.

Opção pela imunidade natural
Há ainda quem justifique que as crianças deveriam adquirir sua imunidade de maneira natural. Levi lembra, no entanto, que o esquema de imunização certo, com todos os seus reforços, pode atingir o mesmo nível de proteção. Isso sem expor o paciente ao risco de desenvolver a doença e suas sequelas – ou mesmo levar ao óbito.

 Fonte: Simers

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