Vacinas do zika têm duração aprovada, afirmam especialistas

18 de dezembro de 2017

Para ser considerada protetiva, além de evitar o contágio de um vírus, uma vacina precisa ter durabilidade. A fim de avaliar esse quesito importante, pesquisadores norte-americanos testaram três fórmulas desenvolvidas para gerar proteção em humanos contra o zika vírus. Em testes com macacos, duas das fórmulas analisadas conseguiram manter as cobaias livres da doença por um ano. Os autores do estudo acreditam que os resultados, publicados na última edição da revista Science Translational Medicine, poderão auxiliar na criação de abordagens mais eficientes.

Estudos anteriores haviam mostrado a eficácia dessas fórmulas logo após a aplicação. “Uma vacina eficaz do vírus zika exigirá proteção duradoura, a longo prazo. Várias candidatas a esse papel demonstraram eficácia protetora em primatas não humanos, mas esses estudos geralmente envolveram observações pouco depois de a vacinação ter ocorrido, no pico da imunidade”, explica ao Correio Dan Barouch, professor de medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo atual.

Os cientistas analisaram três tipos de vacina: uma de vírus inativado purificado (PIV, em inglês), outra com base em vetores de adenovírus (Ad) e uma terceira fórmula feita com DNA. Em experimentos anteriores, todas geraram proteção eficaz em camundongos e macacos logo após a aplicação. Na nova pesquisa, macacos receberam as fórmulas e foram acompanhados ao longo de um ano.

Todas as cobaias que receberam a fórmula de vetor de adenovírus permaneceram protegidas no período. Duas aplicações da vacina de vírus inativado purificado protegeram completamente 75% dos primatas — os 25% restantes experimentaram crises temporárias de viremia (presença do vírus no sangue). Já a vacina de DNA não conseguiu proteger os animais durante os 12 meses: 71% dos primatas ficaram suscetíveis à ação do vírus. “Essas duas alternativas proporcionaram uma proteção robusta ao zika em macacos rhesus, garantida por pelo menos um ano. Já a vacina de DNA, que foi eficaz em estudos de curto prazo, não conseguiu proteger os animais da mesma forma, se mostrando menos promissora”, destaca o autor.

Anticorpos monitorados

Os pesquisadores destacam que os resultados foram animadores e que os detalhes identificados no estudo, como a quantidade de anticorpos contabilizada ao longo de um ano, podem ajudar no desenvolvimento de melhores vacinas. “O próximo passo do nosso trabalho será completar os ensaios clínicos de fase 1, em humanos, com as vacinas de adenovírus e de vírus inativado purificado. Queremos saber mais sobre os mecanismos relacionados a essa proteção duradoura para poder utilizá-la em estudos futuros”, adianta Barouch.

Werciley Júnior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, destaca que o foco na durabilidade das vacinas é de extrema importância para a área terapêutica. “Além de gerar a imunidade, nós temos que saber a duração dessa proteção. Em relação ao zika, os pesquisadores têm pensado que uma va cina para essa enfermidade teria uma aplicação muito semelhante à vacina da dengue, que começou a ser usada agora. Nesta, são necessárias três aplicações durante um ano para que se mantenha o valor protetivo”, explica.

Júnior também destaca que os cientistas americanos abordaram estratégias de proteção que são muito exploradas na área de desenvolvimento de vacinas. “São técnicas avançadas, que tentam gerar uma fórmula totalmente eficaz. E por meio da contagem de anticorpos, é possível ir aprimorando essas fórmulas. Acredito que esses autores estão bastante adiantados, pois já realizam testes com macacos, um próximo passo seria o teste com humanos, em grupos pequenos, mas claro que isso ainda rende alguns anos de pesquisa para termos resultados”, destaca.


Fonte: Correio Braziliense

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