Os médicos e a síndrome de Burnout
Pesquisas recentes revelam que os médicos estão entre os profissionais mais propensos ao desenvolvimento da síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional. A intensa carga horária de trabalho e de responsabilidades, que incluem diversos empregos e plantões, e as más condições de trabalho, na maioria dos casos, são responsáveis por desencadear o transtorno. Para saber mais sobre esse grave distúrbio e o que fazer para reduzir essa estatística, entrevistamos o Dr. Antônio Geraldo da Silva, 1º Secretário da FENAM e presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL).
FENAM – O que é a síndrome de Burnout?
DR. ANTÔNIO GERALDO – Ela caracteriza um conjunto de sintomas ligados ao esgotamento físico e emocional do indivíduo, geralmente ligado à vida profissional. Entre suas principais características está o estado de tensão emocional e estresse provocado pelas condições de trabalho físicas, emocionais e psicologicamente desgastantes.
Os sintomas ligados a tal esgotamento podem resultar em comportamentos negativos, como o absenteísmo (ausência no trabalho), agressividade, isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo e baixa autoestima. Dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios gastrintestinais são manifestações físicas que podem estar associadas à síndrome.
É válido ressaltar que a reação ao estresse não pode ser considerada uma doença em si. A síndrome de burnout é, portanto, uma manifestação dos transtornos ansiosos e da depressão, que frequentemente são diagnosticados posteriormente.
FENAM – As pesquisas apontam para um número grande de médicos adoecidos. O que leva os médicos a desenvolverem essa síndrome?
DR. ANTÔNIO GERALDO – Médicos e demais profissionais de saúde, educação e segurança pública, por exemplo, estão mais propensos ao desenvolvimento da síndrome. No caso dos médicos, a dedicação exagerada à atividade profissional em detrimento da vida social e emocional é um importante aspecto que serve como gatilho.
As condições de trabalho dos médicos, como múltiplos empregos, plantões, faltas de recursos materiais e piso salarial defasado, podem afetar negativamente e fazer com que tenham um ambiente favorável para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos. Geralmente, nos colegas médicos, há também uma falta de limites claros entre vida profissional e pessoal, em que se misturam os contextos laborais, sociais e familiares.
FENAM – O que a FENAM e as demais entidades médicas podem fazer para reduzir essa estatística?
DR. ANTÔNIO GERALDO – Em primeiro lugar, é necessário prezar pela saúde dos médicos, independentemente de sua especialidade. Algumas áreas de atuação estão mais propensas ao aparecimento da síndrome de burnout, como a terapia intensiva, medicina de emergência, medicina de família, entre outras.
É importante que a FENAM e as demais entidades ofereçam esclarecimentos aos médicos, destacando a importância de se cuidar da saúde mental. Isso, além de alguns outros aspectos, como a adoção de um estilo de vida mais saudável, que inclui a mudança de hábitos alimentares e exercício físico, aumento da espiritualidade, a prática de hobbies, ressaltando a importância de uma boa noite de sono, por exemplo.
Ao primeiro sinal de que algo não vai bem com a saúde mental, não hesite em procurar ajuda. Quando mais cedo identificarmos sintomas de um transtorno psiquiátrico, que pode ser indicado pela presença dos sintomas de burnout, melhor o prognóstico e mais rápido poderemos devolver a qualidade de vida ao profissional.
FENAM – O senhor poderia falar sobre o suicídio entre os médicos?
DR. ANTÔNIO GERALDO – A prevalência de suicídio entre médicos chega a ser duas vezes maior do que na população em geral. Isso também se deve, além de características genéticas para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, aos aspectos ambientais do trabalho desenvolvido pelo médico.
Também vemos nos colegas médicos o adiamento da visita ao psiquiatra no caso de sintomas de transtornos. Isso se deve principalmente a dois fatores: o saber das implicações de seus sintomas, o que caracteriza uso errôneo do seu próprio conhecimento; e o orgulho profissional, que o faz julgar que deveria estar apto a diagnosticar e tratar a sua própria doença.
As características elencadas na segunda questão, que levam o médico ao esgotamento, também constituem fatores de risco para a ideação suicida. É necessário tratar o colega médico para mudar o panorama da perspectiva de atenção à sua saúde. Também é essencial a prevenção para a redução da mortalidade entre médicos, com a conscientização de que é essencial cuidar da sua saúde, não somente física, mas mental.
Os médicos sadios, constituindo melhores “recursos humanos”, são também um benefício para os seus próprios pacientes e, assim, para a população em geral.
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