Os médicos e a síndrome de Burnout

Notícias29 de abril de 2019

  Pesquisas recentes revelam que os médicos estão entre os profissionais mais propensos ao desenvolvimento da síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional. A intensa carga horária de trabalho e de responsabilidades, que incluem diversos empregos e plantões, e as más condições de trabalho, na maioria dos casos, são responsáveis por desencadear o transtorno. Para saber mais sobre esse grave distúrbio e o que fazer para reduzir essa estatística, entrevistamos o Dr. Antônio Geraldo da Silva, 1º Secretário da FENAM e presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL).

FENAM – O que é a síndrome de Burnout?

DR. ANTÔNIO GERALDO – Ela caracteriza um conjunto de sintomas ligados ao esgotamento físico e emocional do indivíduo, geralmente ligado à vida profissional. Entre suas principais características está o estado de tensão emocional e estresse provocado pelas condições de trabalho físicas, emocionais e psicologicamente desgastantes. 
  Os sintomas ligados a tal esgotamento podem resultar em comportamentos negativos, como o absenteísmo (ausência no trabalho), agressividade, isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo e baixa autoestima. Dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios gastrintestinais são manifestações físicas que podem estar associadas à síndrome.
  É válido ressaltar que a reação ao estresse não pode ser considerada uma doença em si. A síndrome de burnout é, portanto, uma manifestação dos transtornos ansiosos e da depressão, que frequentemente são diagnosticados posteriormente.

FENAM – As pesquisas apontam para um número grande de médicos adoecidos. O que leva os médicos a desenvolverem essa síndrome?

DR. ANTÔNIO GERALDO – Médicos e demais profissionais de saúde, educação e segurança pública, por exemplo, estão mais propensos ao desenvolvimento da síndrome. No caso dos médicos, a dedicação exagerada à atividade profissional em detrimento da vida social e emocional é um importante aspecto que serve como gatilho. 
  As condições de trabalho dos médicos, como múltiplos empregos, plantões, faltas de recursos materiais e piso salarial defasado, podem afetar negativamente e fazer com que tenham um ambiente favorável para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos. Geralmente, nos colegas médicos, há também uma falta de limites claros entre vida profissional e pessoal, em que se misturam os contextos laborais, sociais e familiares.

FENAM – O que a FENAM e as demais entidades médicas podem fazer para reduzir essa estatística?

DR. ANTÔNIO GERALDO – Em primeiro lugar, é necessário prezar pela saúde dos médicos, independentemente de sua especialidade. Algumas áreas de atuação estão mais propensas ao aparecimento da síndrome de burnout, como a terapia intensiva, medicina de emergência, medicina de família, entre outras. 
  É importante que a FENAM e as demais entidades ofereçam esclarecimentos aos médicos, destacando a importância de se cuidar da saúde mental. Isso, além de alguns outros aspectos, como a adoção de um estilo de vida mais saudável, que inclui a mudança de hábitos alimentares e exercício físico, aumento da espiritualidade, a prática de hobbies, ressaltando a importância de uma boa noite de sono, por exemplo. 
  Ao primeiro sinal de que algo não vai bem com a saúde mental, não hesite em procurar ajuda. Quando mais cedo identificarmos sintomas de um transtorno psiquiátrico, que pode ser indicado pela presença dos sintomas de burnout, melhor o prognóstico e mais rápido poderemos devolver a qualidade de vida ao profissional.

FENAM – O senhor poderia falar sobre o suicídio entre os médicos?

DR. ANTÔNIO GERALDO – A prevalência de suicídio entre médicos chega a ser duas vezes maior do que na população em geral. Isso também se deve, além de características genéticas para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, aos aspectos ambientais do trabalho desenvolvido pelo médico. 
  Também vemos nos colegas médicos o adiamento da visita ao psiquiatra no caso de sintomas de transtornos. Isso se deve principalmente a dois fatores: o saber das implicações de seus sintomas, o que caracteriza uso errôneo do seu próprio conhecimento; e o orgulho profissional, que o faz julgar que deveria estar apto a diagnosticar e tratar a sua própria doença. 
  As características elencadas na segunda questão, que levam o médico ao esgotamento, também constituem fatores de risco para a ideação suicida. É necessário tratar o colega médico para mudar o panorama da perspectiva de atenção à sua saúde. Também é essencial a prevenção para a redução da mortalidade entre médicos, com a conscientização de que é essencial cuidar da sua saúde, não somente física, mas mental.
  Os médicos sadios, constituindo melhores “recursos humanos”, são também um benefício para os seus próprios pacientes e, assim, para a população em geral.

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