Medicina foi um dos maiores alvos da USP durante a ditadura

2 de maio de 2018
O relatório final da Comissão da Verdade da USP, entregue recentemente à Reitoria, conclui que o período da ditadura militar (1964-1985) foi marcado por graves violações de direitos humanos dentro da Universidade. A Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), na capital paulista, foi um dos alvos das perseguições, com prisões, expulsões, inquéritos policiais, aposentadorias compulsórias e demissões sumárias.


Em entrevista à Rádio USP, o professor Erney Felicio Plessmann de Camargo, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e Professor Emérito da FMUSP, deu seu depoimento sobre esse período.

Ele conta que, na época, havia um grupo de professores, em sua maioria jovens, que buscava reformar o ensino e a produção científica na faculdade, trazendo um caráter experimental e fugindo da tradição erudita que a unidade possuía, o que criava conflitos. “Nós estávamos nos tornando incômodos ao exigir uma reformulação completa do processo de pesquisa e de tratamento experimental do conhecimento médico, e não o transmitido por livros”, relata o professor.


Após o golpe militar, por meio de uma carta anônima, vários professores foram alvos de denúncias baseadas em inverdades e foi aberto um Inquérito Policial Militar (IPM). O médico foi acusado de mentir em seu currículo e de aliciar alunos para o Partido Comunista. A partir do inquérito, vários professores foram demitidos da faculdade e alguns foram embora do País – caso do professor Plessmann, que viajou aos Estados Unidos com a família às pressas.


Com o fim da ditadura, o professor foi um dos primeiros a retornar à USP. Ele lembra que vários médicos não voltaram ao Brasil ou até mudaram de carreira. Como forma de se redimir, a Faculdade de Medicina deu a todos os professores que haviam sido demitidos durante a ditadura o título de Emérito.


Os volumes do relatório final da Comissão da Verdade podem ser acessados no site oficial do programa.

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