Pesquisa comprova que microcefalia por Zika tem fator genético

20 de fevereiro de 2018
Quando estava grávida, Bárbara Monteiro fez o primeiro ultrassom por volta dos seis meses de gestação e descobriu que seria mãe de gêmeos. Perto do nono mês, outro exame apontou que eram meninas: Sophia e Carol. No dia da cesariana, um profissional da equipe cirúrgica percebeu que as cabecinhas das crianças eram menores do que o normal: tratava-se de microcefalia. “Eu já havia visto na televisão o surto de microcefalia no Brasil. Cheguei a pensar que elas haviam nascido mortas. Na hora, a gente pensa um monte de coisa. Mas sorri e falei: ‘Está bem. São as minhas filhas’”, afirmou a jovem mãe.


O vírus Zika pode causar um dano significativo ao cérebro do feto, de acordo com estudos dirigidos por investigadores de faculdades de medicina de todo o mundo. Entretanto, a maneira como o vírus causa a microcefalia no feto depende de fatores genéticos. Essa descoberta foi resultado de um estudo conduzido por diversos pesquisadores de todo o país, que inclui dois profissionais do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS), vinculado à Rede Ebserh.


A pesquisa, liderada pela Universidade de São Paulo (USP), examinou 91 bebês de vários estados brasileiros, incluindo nove pares de gêmeos que foram essenciais para a descoberta. Dentre os gêmeos, dois pares – um deles é acompanhado pelo HU-UFS – eram meninas monozigóticas (gêmeas idênticas) e os demais, dizigóticos (gêmeos diferentes).


“Sem os gêmeos, não podemos ver a forma como a síndrome congênita se apresenta diante de alguma determinação genética”, destaca a pesquisadora do HU-UFS, Ana Jovina, envolvida no estudo. Os pesquisadores notaram que todas as gêmeas idênticas tinham microcefalia; no caso dos gêmeos diferentes, por sua vez, apenas um par era concordante para a doença. Assim, reforçou-se a hipótese de que um componente genético aumenta o risco de desenvolver a síndrome.


Na conclusão da pesquisa, os cientistas conseguiram relacionar mais de 63 genes com expressões distintas em alguns bebês, gerando uma pré-disposição genética no feto que é posteriormente exposto ao vírus Zika. “Agora que sabemos que alguns fetos têm um risco maior de adquirir a microcefalia se forem expostos ao vírus durante a gestação, podemos pensar em políticas públicas para grupos distintos, o que será muito útil no caso de decidir quem tem prioridade para tomar, por exemplo, uma futura vacina”, explica Roque Pacheco, gerente de Ensino e Pesquisa do HU, outro pesquisador participante do estudo.


Políticas públicas futuras que poderão beneficiar pessoas como Bárbara, que mesmo com todas os sobressaltos, ama e protege seus bebês “As enfermeiras me elogiaram pela maneira como tratei as minhas filhas desde o primeiro dia. Elas me disseram que há mulheres mais velhas que entram em desespero. Eu já tinha a experiência de uma vida inteira cuidando da minha irmã, que é portadora de necessidades especiais”, contou Bárbara.


O artigo científico resultante da pesquisa foi publicado no início deste mês de fevereiro no periódico Nature Communications, um dos mais prestigiosos do mundo. Para ler a publicação (em inglês), clique aqui.

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