Pesquisa aprimora implantes usando proteínas de peixe

11 de outubro de 2017
Uma pesquisa inédita, desenvolvida em parceria pela Fiocruz Pernambuco e o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), utiliza um tipo de proteína, a lectina, para melhorar a qualidade dos implantes ósseos ou dentários, tornando-os mais eficientes em se integrarem ao organismo do paciente.


Nessa investigação, a lectina utilizada foi extraída do soro do peixe Tilápia do Nilo (Oreochromis nicolitus – Onil). Um tipo de proteína que tem afinidade pelo açúcar, presente na superfície das células. Essa característica da lectina a faz atrair as células para se depositarem na superfície do implante, favorecendo uma melhor integração ao tecido ósseo. “A gente observou que a presença da lectina no implante propicia uma colonização pelas células do paciente muito mais rápida e uniforme”, explica a orientadora do projeto, a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Regina Bressan. “Se elas são as primeiras a aderir no local, as bactérias ficam sem espaço para se instalarem e dar início a um processo infeccioso, um risco frequente nesse tipo de intervenção”. As infecções associadas a implantes médicos costumam ser resistentes aos mecanismos do sistema imune e difíceis de tratar com antibióticos.


Os implantes utilizados na pesquisa foram produzidos com nanotubos (cilindros com proporções extremamente reduzidas, nanométricas) de dióxido de titânio – um material utilizado para substituir ossos e outros tecidos duros do corpo humano. Os nanotubos foram sintetizados no Cetene por um processo que cria uma camada de óxido, que protege a superfície do metal e produz microrrugosidades. Este processo é chamado de anodização. Eles formam um arcabouço para que as células se reconstruam na superfície de contato com a prótese, num formato muito semelhante à estrutura original dos ossos. Isso favorece a osseointegração e faz com que esse material seja muito utilizado atualmente em implantes.


O objetivo da pesquisa foi modificar a superfície desses nanotubos, utilizando lectinas e nanopartículas de prata, a fim de melhorar a biocompatibilidade e conferir propriedades antimicrobianas. “Isso porque, embora o titânio tenha várias vantagens sobre outros biomateriais, no longo prazo podem acontecer problemas de rejeição”, explica a autora do trabalho, a biomédica Keicyanne dos Anjos, que desenvolveu a pesquisa durante o mestrado em Biociências e Biotecnologia em Saúde na Fiocruz Pernambuco.


As lectinas foram obtidas graças a uma parceria com o Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Pernambuco e foram aplicadas nos implantes no laboratório de Microbiologia da Fiocruz Pernambuco. As amostras foram caracterizadas e avaliadas quanto à sua toxicidade, adesão celular, potencial de formação de tecido ósseo e atividade bactericida. Esse estudo foi realizado com células cultivadas em laboratório, mas Keicyanne já iniciou um desdobramento dessa pesquisa, agora no doutorado, que utilizará implantes em animais. Os parâmetros estão sendo definidos, para incorporar novos materiais ao titânio e refazer a aplicação da prata, com um método diferente, pois não foi observada melhora nem na biocompatibilidade nem na inibição do crescimento de bactérias com o protocolo anteriormente utilizado.


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