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Cientistas americanos buscam formas de combater bactérias hospitalares
17 de julho de 2017
Elas já estavam por aqui há, pelo menos, 3,77 bilhões de anos. Quase tão antigas quanto a própria Terra, é natural que as bactérias tenham colonizado cada milímetro do planeta. Incluindo o próprio homem, que tem mais micróbios em seu interior que células. Mesmo os ambientes aparentemente imaculados, como hospitais, não estão livres delas.
Por isso, pesquisadores estão mapeando as populações bacterianas que colonizam serviços de saúde. Embora a maioria das espécies seja inofensiva, algumas, como as ultrarresistentes, podem causar sérias infecções. Descobrir como se dá a interação entre a vida invisível que habita seres humanos e superfícies hospitalares ajuda a prevenir contágios graves.
Esse é o objetivo do Projeto Microbiota dos Hospitais, mantido por um consórcio de pesquisadores liderados pela Universidade de Medicina de Chicago, nos Estados Unidos. Durante 12 meses, os cientistas mapearam a diversidade bacteriana dentro de uma unidade de saúde recém-inaugurada na cidade norte-americana. Depois, avaliaram cuidadosamente as espécies detectadas e publicaram os primeiros resultados na revista Science Translational Medicine.
“Nós criamos um mapa detalhado, extremamente relevante para a prática clínica, da troca microbiana e da interação de micróbios em um grande ambiente hospitalar”, explica o chefe dos estudos, Jack Gilbert, diretor do Centro de Microbiota da instituição. “Esse mapeamento descreve um ecossistema microbiano próspero, que interage regularmente com os pacientes, de forma aparentemente benigna”, continua. “Pelo menos, a maioria das pessoas não parece ser afetada negativamente”, completa.
O estudo Colonização bacteriana em um hospital recém-aberto começou dois meses antes de a Universidade de Medicina de Chicago abrir seu novo hospital, o Centro de Cuidados e Descobertas, em fevereiro de 2013. Nos 10 meses seguintes, os pesquisadores continuaram a minuciosa investigação. Coletaram mais de 10 mil amostras e detectaram DNA microbiano em 6.523 delas. As bactérias estavam em 10 salas de atendimento e em duas estações de enfermagem próximas a elas, uma sala de cuidados de pacientes cirúrgicos e outra, de pacientes oncológicos.
Os cientistas esfregaram as mãos, as narinas e as axilas de cada paciente, assim como as superfícies que eles poderiam ter tocado, como suporte de soro e mesinha de cabeceira. Eles coletaram amostras de salas próximas e de múltiplas superfícies, incluindo o piso e o filtro de ar. Cada quarto era limpo diariamente, com uma higienização mais vigorosa após a alta dos ocupantes. Além disso, os pesquisadores coletaram amostra dos enfermeiros e das unidades de enfermagem, incluindo mãos, luvas, sapatos, camisetas, estação de trabalho, cadeiras, computadores e telefones celulares.
Pela pele
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Assim que o hospital abriu, micro-organismos como Acinetobacter e Pseudomona, abundantes durante a construção e a fase de preparação para a inauguração, foram rapidamente substituídos por micróbios encontrados na pele humana, como Corynebacterium, Staphylococcu e Streptococcus, trazidos pelos pacientes. “Antes da abertura, o hospital tinha uma diversidade relativamente baixa de bactérias”, diz Gilbert. “Mas logo que ficou povoado por pacientes, médicos e enfermeiros, as bactérias de suas peles tomaram conta”, diz.
Essa era a primeira de uma série de alterações no ecossistema bacteriano. No primeiro dia de atendimento, os micróbios tendiam a se mover das superfícies dos quartos (cabeceiras, bancadas e suportes de soro) para o corpo do paciente. Mas, nos dias que se seguiram, essa movimentação ocorreu na direção contrária: os micróbios dos pacientes passavam para o quarto, aumentando a diversidade bacteriana encontrada nos móveis e nos objetos. “Em 24 horas, a microbiota dos pacientes dominou o espaço hospitalar”, conta o pesquisador.
Além disso, os pesquisadores descobriram que os membros da equipe do hospital, que geralmente estavam com luvas ou máscaras ao entrar no quarto dos pacientes, transferiam mais de seus micróbios para os internos — que não utilizavam esse tipo de proteção — do que o contrário. Fatores clínicos, como se os pacientes estivessem recebendo quimioterapia, antibióticos ou se estivessem se recuperando de cirurgia, não tiveram impacto significativo na diversidade de bactérias coletadas na pele deles. De forma inesperada, os pesquisadores também constataram que, no verão, quando a umidade é mais alta, os médicos e os enfermeiros tinham mais micróbios semelhantes entre eles do que no inverno, sugerindo que trocam bactérias com maior frequência na estação do calor.
As superfícies são negligenciadas. Elas deveriam ser encaradas como um paciente: ou seja, o profissional deveria limpar as mãos sempre depois de tocá-las”
Adriano Menis Ferreira, pós-doutor, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e autor de artigos científicos sobre a limpeza em hospitais.
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